
Aguardando Affonso entrar no teatro pela coxia – não pela plateia! – acho que me distraí e, salvo engano, foi ele quem me viu primeiro. Claro que eu não era mais especial do que os outros. A diferença foi apenas o fato de ocupar lugar na primeira fileira de cadeiras. Ninguém fez isso, só eu. Sem nenhuma timidez e até um pouco de deboche, admito. Queria debochar das pessoas que tiveram vergonha de expressar, na geografia do corpo, o quanto gostariam de ser vistas por ele e não apenas vê-lo.
O melhor da festa, e falo bem particularmente, foi quando Affonso sentou do meu lado direito. Feito alguém comum que se esqueceu de apagar a luz antes de sair do quarto, fez palavras cruzadas até o sono bater ou tomou um taxi sem dinheiro para tomá-lo. Perguntou sobre mim, o que eu fazia, de onde tinha vindo. Respondi tudo aquilo com realidade e de minha verdade veio um monte de risos (alguns meus, inclusive). Fiquei pensando: deveria tê-lo conhecido antes, em outras palestras, outros carnavais. Mas o tempo de espera até que foi generoso e trouxe a compensação naquela intimidade rápida de alguns minutos.
O poeta, enfim, subiu ao palco e contou histórias de se bem ouvir. Fiz umas anotações inúteis, imprecisas, a troco de nada. Não imagino que um dia precisarei recorrer a elas enquanto tiver memória. E o que ficou foi a sensação de que eu era alguma coisa menos antes de conhecer Affonso, de ver Affonso e acreditar que, para além do meu imaginário, ele é real.
*Imagem: Affonso Romano de Sant'Anna e eu - toda tiete - na abertura da II Jornada Sesc Alagoas de Literatura, Teatro Jofre Soares, Sesc Centro, Maceió, na última terça-feira (25). Ah, não tenho ideia de quem fez a foto.